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  • Foto do escritorAline Amaro da Silva

O dia que o trem parou


Minha primeira experiência na Alemanha. Cultura digital x cultura do livro.


Desde que cheguei na Alemanha, já vivi muitas aventuras. Acho que deve ser assim para todo estrangeiro que aterrissa numa terra desconhecida. A primeira aventura foi logo na chegada. Desci do avião em Frankfurt, onde um ex-professor estava me esperando para me ajudar a encontrar o trem (obrigada Prof. Leandro!). Peguei o trem para Bochum que parou no meio do nada durante horas. Eu deveria chegar em Bochum às 19h de sábado e cheguei às 02h30 de domingo. Minha sorte é que o assistente do meu professor ficou me esperando na estação de Bochum, porque não falo alemão e não conhecia nada por lá. Ele ainda fez a gentileza de passar no supermercado e comprar comida para mim, pois os supermercados na Alemanha não abrem no domingo. Valeu Patrik pela recepção nada germânica! (Pois esse tipo de delicadeza não é comum na Alemanha como é no Brasil, aqui o pessoal deixa você se virar sozinha. Eu falarei melhor sobre isso em outro post).





Nessa viagem de trem, pude fazer importantes observações. A primeira é que os trens aqui não são tão bons como a gente pensa. Já foram melhores, dizem os alemães. Diariamente há muitos problemas com trens aqui, desde pequenos atrasos até cancelamentos. Os trens já me deixaram na mão muitas vezes. No entanto, não podemos contar com os atrasos no trem, precisamos sempre chegar com cinco minutos de antecedência, não é como no Brasil que há cinco minutos de “tolerância”. Muitas vezes, os trens até saem um ou dois minutos antes do horário. Precisamos aprender a ser pontuais, a pontualidade aqui é um valor fundamental. Estou aprendendo e melhorando este aspecto.


Outra interessante constatação para minha área de pesquisa foi ver a reação dos jovens alemães ao serem informados que ficaríamos parados por um certo tempo. Para a minha surpresa, eles puxaram de suas mochilas livros, jornais ou revistas para ler, especialmente livros, e começaram a conversar uns com os outros. Se fosse no Brasil, todos os jovens estariam o tempo inteiro interagindo no seus smartphones, conversando entre si também, mas sem se desconectar do seu dispositivo digital. Os alemães tinham smartphones ou tablets, eles usaram esporadicamente seus aplicativos ou ligaram para alguém para avisar do atraso, mas nenhum deles ficou isolado e absorto no ambiente digital, como costumamos presenciar até mesmo adultos com este tipo de comportamento nos transportes públicos brasileiros. Aqui na Alemanha ainda é muito presente a cultura do livro, do documento em papel, do encontro face a face, do envio de documentos importantes pelo correio. O processo de digitalização já chegou aqui, é claro, mas não está tão desenvolvido como no Brasil em certos setores.


Além disso, pude observar que os jovens alemães não tinham os últimos lançamentos do mercado digital, seus smartphones eram razoavelmente bons, não necessariamente novos ou superpotentes. Isso significa que as novas tecnologias não são o principal bem de consumo por aqui, aparentemente o marketing não dita tanto as regras da vida alemã como acontece no Brasil. Não se vê também tantos anúncios e outdoors como nas ruas e centros brasileiros. Apesar da cultura digital estar presente e se desenvolvendo em todos os lugares para todas as idades, a cultura do livro ainda permanece forte na Alemanha. Isso eu considero uma grande virtude desse povo que ainda estou aprendendo a admirar.


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