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  • Foto do escritorAline Amaro da Silva

A minha experiência como peregrina na Jornada Mundial da Juventude 2019

Atualizado: 24 de mai. de 2021

Uma experiência boa é aquela muda a nossa vida para melhor, seja um desafio, um grande momento de alegria e celebração, ou uma dificuldade. No livro “Escolhendo Jesus”(2018, p. 82) eu já havia comentado sobre a importância de eventos não como acontecimentos isolados, achando que os realizar é suficiente para evangelizar ou viver a fé, mas como marco de um processo, de uma história de amor com Deus marcada por vários fatos e protagonizada por diversas pessoas.




Nesses encontros, percebemos que fazemos parte de algo maior do que nós mesmos, fazemos parte de um corpo, de uma comunidade numerosa, que não temos apenas uma experiência de fé pessoal, mas nossa fé é essencialmente comunitária, a exemplo da Trindade. Com isso, temos também uma noção um pouco melhor de quão imensa é a nossa Igreja e de como a nossa vivência da fé pode ter impacto significativo não só no ecossistema ao nosso redor, mas também na sociedade local e global.


Depois desses 18 dias de viagem, participando da Jornada Mundial da Juventude no Panamá e da Semana Missionária na Costa Rica, fico pensando. O que fica de tudo isso? Valeu a pena? O que nos motiva a participar da Jornada, qual o seu objetivo e o que realmente acontece?


Se o objetivo da Jornada é ver o Papa, então pode ser que seja frustrante. A gente geralmente até consegue ver, mas, nessa Jornada o Papa passou tão rápido que mais parecia o “Papa Léguas”. Se o objetivo é ouvir o Papa, talvez fosse melhor acompanhar pela Rádio Vaticano ou internet, se aproveitaria muito mais, sem distrações. Então, para que vamos tão longe, pagamos caro e nos esforçamos para participar da JMJ? Como o Papa Francisco mesmo fala: “A verdade não está nas ideias, mas no encontro”, ou seja, na relação. É o encontro com outras culturas, povos, entre cristãos, especialmente com os jovens, que realmente importa na Jornada. A experiência da comunhão, fraternidade e solidariedade é o que faz a diferença. A vivência da pobreza, do despojamento, de necessitar do auxílio dos outros, e portanto, aprender a confiar em outras pessoas é o que muda a nossa vida.


Na convivência com os outros descobrimos diversos aspectos sobre nós mesmos. Desde uma alegria e força interiores que não sabíamos que possuímos, até atitudes negativas em relação aos outros ou conosco mesmo que não enxergávamos antes. Portanto, no encontro com o outro, se bem aproveitado, crescemos em maturidade humana e espiritual, e nossa fé é testada em ações concretas. No entanto, para que isso aconteça precisamos estar abertos.

Podemos viver a experiência da Jornada de maneira superficial, como um turismo barato, para curtir lugares interessantes, shows musicais e culturais. É verdade também que precisamos respeitar o estágio de vivência cristã de cada um. Existem aqueles que recém estão descobrindo a fé e a Igreja, e aqueles com anos de caminhada espiritual. Não devemos julgar o jovem que foi na Jornada para passear, pois Deus pode o surpreender. A experiência de cada um é única. Dessa forma, não se deve considerar a JMJ como um evento de massa. Cada um tem uma experiência pessoal diferente, embora juntos formemos uma multidão, ou melhor, um corpo. A diferença da massa para o corpo, e que não nos diluímos no coletivo, formamos uma unidade na diversidade de carismas, personalidades e histórias.

Penso naqueles que, como eu, tiveram que enfrentar problemas durante a Jornada, tais como: extravio ou dano na bagagem, doenças, acidentes, perdas de dinheiro ou documentos. Vale a pena todo esse estresse e sofrimento? A experiência da Jornada é também experiência de despojamento, de ascese, de renúncia, de aprender a dar valor as coisas mais básicas da vida: saúde, ter roupa limpa para vestir, ter onde dormir, ter o que comer.


A Jornada é momento de observar e aprender com os gestos de caridade, solidariedade e entrega das pessoas ao nosso redor. Admirar o gesto de um jovem peregrino que partilha seu lanche com um morador de rua. Um motorista de ônibus de linha normal que espera um jovem voltar do banheiro antes de partir da parada (isso a gente nunca veria no Brasil! Eu fiquei chocada!). Uma mulher que decide levar peregrinos para a sua casa e dispõe uma chave para esses jovens estrangeiros que recém conheceu. Gestos que talvez vejamos apenas no Panamá, dentro de um povo e cultura específicos, que podem se contrapor a valores de outras nações como a pontualidade na Alemanha, por exemplo.


Para mim, as experiências mais marcantes foram durante a Semana Missionária, pois tivemos mais contato com as famílias que nos acolheram. Isso me lembra a frase escrita nos pavilhões do Santuário Nacional de Aparecida: “Acolher bem também é evangelizar”. Pessoas simples ofertando tudo aquilo que possuem para acolher com dedicação, amor e ternura. Este é um testemunho cristão que marca a nossa vida e nos faz querer ser melhores, amar mais, abraçar mais, doar-se mais. Também cabe a nós, peregrinos, sermos esses sinais da presença viva de Jesus, como os discípulos ao serem enviados em missão, desejando a quem nos recebe: “Paz a esta casa”.





Eu fui acolhida por uma família linda e numerosa. Num mesmo terreno havia as casas de várias gerações da família: pais, filhos, netos e mesmo bisneta. Pousei na sala de estar dos genitores dessa família, Violeta e Chino, que por sinal tem a mesma idade dos meus pais. Todas as manhãs, Dona Violeta preparava um tradicional café da manhã costarriquenho e o seu Chino me levava de moto para a Paróquia Nossa Sra. dos Desamparados, em San José. Eles me acolheram como a uma filha e, através do amor que eles depositaram em mim, pude sentir o amor de Deus. Continuamos cultivando nossa amizade pelas redes sociais. Isso é uma graça que só em momentos como a JMJ acontecem: Criar vínculos com pessoas e lugares que em situações normais do nosso cotidiano nunca teríamos a chance de conhecer. Assim também deve ser nossa evangelização, amar e acolher de coração, não com fingimento e falsa piedade. Ser cristão não é interpretar um papel, é encarnar o amor de Deus, tendo atitudes que brotam de uma relação autêntica com Deus.





Apesar das tribulações que passei, especialmente no Panamá (bagagem, saúde, etc), a Jornada foi uma experiência de crescimento que valeu a pena ser vivida, fez eu notar atitudes interiores que preciso mudar, e ganhei um novo marco na minha caminhada de fé, novo ânimo para reparar e algumas coisas para recomeçar. Uma das frases do Papa que me marcou nessa Jornada foi a seguinte: “O problema não é cair, o problema e permanecer no chão” (que por sinal é citada na Christus Vivit, n. 120). A Jornada é uma oportunidade de autoconhecimento, reconhecer limites, superar dificuldades, ir além de nós mesmos, fazer novas amizades, compartilhar momentos preciosos de encontro com Deus e com os irmãos na fé. Perceber que tudo é graça, tudo concorre para o nosso bem e para um bem maior, mesmo as situações desfavoráveis. Tudo depende de nossa atitude diante dos acontecimentos, qual significado lhe atribuímos. Então, vale a pena? Vale, vale muito a pena ser peregrino da JMJ!


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